Desequilíbrio energético da Terra cresce sem explicação e preocupa cientistas 4e2a1h
Por Redação Publicado 05/06/2025
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Planeta absorveu o dobro de energia do que o previsto, o que pode acelerar o aquecimento global
O desequilíbrio energético da Terra está aumentando mais rápido do que os cientistas previam. A conclusão é de um estudo liderado por Thorsten Mauritsen, professor de meteorologia da Universidade de Estocolmo, na Suécia, publicado na revista científica AGU Advances.
Esse desequilíbrio ocorre quando a Terra absorve mais energia solar do que consegue liberar de volta ao espaço. Como consequência, o planeta aquece, afetando geleiras, oceanos e padrões climáticos globais. Em 2023, a Terra absorveu cerca de 1,8 watts por metro quadrado a mais do que emitiu — o dobro do esperado com base nas emissões de gases de efeito estufa.
Desequilíbrio energético revela agravamento das mudanças climáticas
O desequilíbrio é um dos principais indicadores da intensificação das mudanças climáticas. Gases como o dióxido de carbono (CO₂) retêm o calor na atmosfera, dificultando a liberação de energia para o espaço. Com isso, as temperaturas sobem, os polos derretem e o nível dos oceanos aumenta.
Para monitorar essa situação, a NASA utiliza atualmente quatro satélites da missão CERES, que medem a entrada e saída de energia do planeta. No entanto, esses equipamentos estão próximos do fim da vida útil e devem ser substituídos apenas em 2027, com o lançamento do satélite Libera.
Risco de apagão nos dados climáticos preocupa cientistas
A substituição dos satélites por apenas um novo equipamento preocupa a comunidade científica. Caso os instrumentos atuais parem de funcionar antes da entrada em operação do Libera, haverá um vácuo de dados importantes para entender a evolução climática. Além disso, a ausência de sobreposição entre os equipamentos impede a comparação precisa das informações.
Sem esses dados via satélite, a alternativa seria recorrer à medição da temperatura dos oceanos — um processo que pode demorar até uma década para refletir mudanças no sistema climático. Isso reduziria a capacidade de resposta a crises ambientais emergentes.
Cientistas ainda buscam explicações para o aumento repentino
A aceleração do desequilíbrio energético surpreende os especialistas. Inicialmente, pensava-se que fenômenos naturais como o El Niño estariam por trás desse crescimento, mas a tendência persistiu mesmo fora desses ciclos. “Quando o aumento continuou, comecei a ficar realmente preocupado”, afirmou Mauritsen em entrevista ao site Live Science.
Uma das hipóteses levantadas é a redução da capacidade da Terra de refletir a luz solar, causada pelo derretimento das calotas polares e pela queda na emissão de aerossóis refletivos, resultado da diminuição de certos tipos de poluição. Com menos superfícies claras para refletir a luz, o planeta absorve mais calor.
Cenário reflete pressão humana sobre a Terra
O desequilíbrio também serve como indicador do quanto a humanidade já alterou o sistema climático. Segundo Mauritsen, mesmo que a queima de combustíveis fósseis seja reduzida, o planeta pode continuar absorvendo mais energia do que o ideal. “Esperamos que as temperaturas parem de subir quando pararmos de queimar combustíveis fósseis, mas, se o desequilíbrio continuar alto, talvez isso não seja suficiente”, alertou.
Em 2024, os dados mostraram que o desequilíbrio energético voltou aos níveis previstos pelos modelos climáticos, o que trouxe um alívio temporário. No entanto, os cientistas ainda não sabem se essa estabilidade irá se manter. “Se voltar a subir bruscamente, não sabemos qual será o próximo o”, disse o pesquisador.
Soluções dependem de novos satélites e investimentos
Além do satélite Libera, a NASA já propôs o desenvolvimento de novos satélites esféricos capazes de medir radiação de forma mais precisa, captando energia de todos os ângulos. No entanto, cortes orçamentários vêm dificultando o avanço desse projeto.
Mauritsen e sua equipe alertam: sem dados confiáveis, decisões políticas e ambientais podem ser tomadas no escuro. “Precisamos saber até onde empurramos o clima. Sem essas medições, estamos tentando pilotar o sistema climático com os olhos vendados”, concluiu.