Artesã de Encantado adota haitiana em um caso de amor e superação 35vf

Uma história de amor, compaixão, dedicação e luta contra o preconceito, em Encantado, mudou as perspectivas de uma criança haitiana, assolada pela pobreza e por sucessivas tragédias pessoais, e mudou a vida de uma artesã que voltou a se tornar mãe de uma criança aos 51 anos, unindo ainda mais sua família.
Márcia Finatto compartilhou sua jornada até adotar Sageline Chistela Julien, de 7 anos, uma criança haitiana que encontrou um lar e uma nova família. O nome “Sageline Chistela Julien” ressoa com significados profundos e simbolismo, mas é pelo apelido carinhoso de “Sassá” que a menina é carinhosamente conhecida. A própria origem do apelido é uma história de força e esperança, nascida de um parto difícil e dedicada a homenagear Cristo, mas adaptada para celebrar a chegada de uma filha.
A história que uniu Sassá e sua nova família começou em setembro de 2017, quando Márcia e sua família tiveram a oportunidade de conhecer a pequena, na época com um ano e três meses. A filha de Márcia, Isadora, trabalhava em uma creche que acolhia principalmente crianças haitianas.
Prostrada diante das dificuldades que presenciava, ela direcionava seu salário principalmente para adquirir calçados e fraldas para as crianças. A maioria delas, cerca de 90%, eram haitianas, muitas sem sapatos e com dificuldades financeiras para comprar fraldas. Com tanto carinho, e ela ficou conhecida como “Madre Teresa”.
A maior parte do tempo, estava envolvida em auxiliar as crianças haitianas, assim que chegava em casa. Ao longo dos meses, Isadora compartilhou histórias que abriram os olhos de Márcia para a difícil realidade enfrentada pelos haitianos que buscavam refúgio em Encantado.
A dedicação de Isadora às crianças haitianas serviu como inspiração para Márcia, e o dia em que a família conheceu Sassá marcou o início de uma jornada que mudaria vidas. Durante um feriado de sete de setembro em 2017, com a permissão dos pais da menina, ela foi ar o dia com a família no sítio. Ela tinha um ano e três meses. “Ela parecia um tanto assustada e desconfiada, algo que faz parte de sua cultura que não prioriza gestos de carinho, afeto, abraços ou beijos”.
A presença de Sassá trouxe consigo uma mistura de emoções – desde a alegria de conhecê-la até a tristeza de testemunhar suas dificuldades. Ao visitar o lar delas, Márcia ficou chocada com as condições desafiadoras em que viviam. O pai já havia voltado para o Haiti. A história de compaixão de Márcia levou-a a oferecer assistência à mãe e à pequena. “Ela cuspia o bico longe quando ela enxergava qualquer coisa comestível, então a gente viu o quanto eles deviam de ar fome também”, emociona-se Márcia.
À medida que o tempo ou, a relação entre Márcia, sua família e Sassá cresceu profundamente. A dedicação de Márcia a Sassá a levou a enfrentar desafios significativos, incluindo o fechamento temporário de sua loja para se dedicar integralmente ao tratamento da criança após um acidente traumático. Um vínculo único e inquebrável se formou, e Márcia e sua família perceberam que a menina era muito mais do que uma simples conhecida – ela era parte da família.
Pedido de ajuda a20y
Márcia afirma que após aquela visita, eles aram a ajudar sempre que possível, mas nunca imaginaria o que estava por vir. No dia em que a conheceram, o pai biológico da menina deixou o lar.
Logo em seguida veio uma notícia assustadora. No dia 12 de setembro, recebeu um telefonema da mãe da criança pedindo socorro, pois a filha havia se queimado gravemente. Após o atendimento no hospital, ela ainda precisou de muitos cuidados.
“Eu não podia dormir com o coração daquele jeito”, disse. Levou mãe e filha para sua casa para casa, para o tratamento. Ela ou quatro meses com a loja fechada, levando a criança para fazer curativos a seco de manhã e à tarde.
Foram quatro ou cinco meses de envolvimento emocional intenso, testemunhando o sofrimento da criança. Ao final do tratamento, eles pensaram em encontrar um lar digno e apoio para a menina, com a intenção de devolvê-la à família. No entanto, após seis meses, a mãe decidiu ir atrás do marido e para o Haiti, onde tem mais quatro filhos, e decidiu que Sassá seria mais bem cuidada com Márcia.
Tudo foi resolvido junto à Justiça, inclusive com a mãe biológica presente. Ela foi submetida a todas as interrogações e questionada pelo juiz se gostaria que Márcia criasse a filha dela. A mãe respondeu que a filha estava bem com Márcia, que todos estavam felizes e gostavam dela. A mãe não é recriminada, pois ela abriu mão da criança para que ela pudesse ter uma vida melhor, conta Márcia, informado que ela acompanhou todos os sete anos da menina, visitando-a durante as férias, almoçando e jantando com ela e sua família. E mantém contato diário pelo WhatsApp, acompanha a vida escolar e as festas de aniversário.
Oficialmente, Márcia tem a guarda da menina, que foi concedida pelo juiz após avaliação social e estudos. Márcia acredita que se Deus trouxe essa situação para sua família, deve ter um propósito. Ela garante: faria tudo novamente. Márcia concedeu entrevista ao Agora no Vale (confira abaixo).
“Estou muito feliz” 1l1k3v
Ao saber que a mãe estava concedendo entrevista, Sassá decidiu dar seu próprio relato. Disse estar muito feliz com sua família, e que seu sonho é se manter sempre junto dela, em momentos alegres como viagens. Relatou que decidiu ser ginasta, e gosta muito de brincar com o pula-pula. Está no primeiro ano do Ensino Fundamental, e diz que se orgulha de ter notas boas, especialmente em matemática.
Em um gesto que solidificou ainda mais os laços familiares, ela expressou seu desejo de receber o sobrenome “Bastiani”, em homenagem aos seus novos irmãos, duas mulheres e um homem. Esse ato simboliza a união e o amor que agora a conecta aos membros de sua família adotiva.


Entrevista 5r1mb
Jornal Agora no Vale – Como você descreveria a jornada de Sassá desde o dia em que a conheceu até agora? Quais foram os momentos mais marcantes ao longo desse tempo?
Márcia Finatto – A jornada foi natural, normal, porque um bebê de um ano e pouco, se bem alimentado, tratado com muito amor e carinho, não tem maiores problemas de adaptação. Pouco lembra de sua família biológica. O tempo foi ando aprendeu as primeiras palavras. Ensinei meu nome Márcia, e no decorrer, ao ouvir os irmãos grandes me chamar de mãe, ou assim me chamar naturalmente, assim como o pai, Paulo César Bastiani, de Papo. Naturalmente.
Momentos? Dois inesquecíveis: um quando ela questionou a sua cor, diferente da nossa? Foi quando eu respondi: que o papai do céu pinta cada um de uma cor, e você ele pintou da cor de chocolate que nós amamos, ela sorriu, nunca mais questionou, ficou feliz.
O segundo, quando ao tomar banho comigo, percebeu as cicatrizes das cesáreas dos meus 3 filhos e perguntou. Expliquei, e aí veio a pergunta. E eu respondi: “você nasceu daqui (mostrei o coração) do meu coração. Também ficou feliz e satisfeita com a resposta.
Agora no Vale – Quando você visitou o lar da mãe e de Sassá e viu as condições desafiadoras em que viviam, o que ou pela sua mente? O que a motivou a oferecer assistência e apoio?
Márcia – A falta mínima de higiene, de recursos de alimentos. Só se alimentava e trocava fraldas quando chegasse na creche.
Agora no Vale – Poderia compartilhar um pouco mais sobre os desafios significativos que você enfrentou ao cuidar de Sassá?
Márcia – Desafios? O preconceito e o racismo na região ficavam evidentes em todas as situações, mas sempre lutei e briguei por ela, e vou continuar. Para entrar na escola, para tudo! Ela é negra, e tem uma mãe branca muito brava e que não ite injustiça com os que não têm forças de lutar.
Agora no Vale – Como a comunidade local de Encantado reagiu a essa história de amor e cuidado?
Márcia – Na grande maioria, todos comovidos, sensibilizados, ajudadores, mas me chamando de louca, tipo, vai te incomodar etc. Como se filhos biológicos não dessem problemas! Nunca me importei com isso. Faria tudo outra vez, mas a maioria não faria.
Agora no Vale – A decisão de Sassá de adotar o sobrenome “Bastiani” é realmente tocante. Como você se sentiu quando ela expressou esse desejo?
Márcia – Sim, ela demonstra desde que ou a ter entendimento, que quer ser Bastiani como os manos grandes. Vou esperar ela ter idade para que se realmente isso for importante pra ela, tomaremos as medidas necessárias para a alteração do nome.
Agora no Vale – Como você imagina o futuro de Sassá? Quais são suas esperanças e sonhos para ela?
Márcia – Terá um futuro! Poderá ser profissionalmente o que quiser. Terá condições, tenho esperança e certeza que para a comunidade negra, haitiana ela será uma referência pelo menos na cidade. Vou ensinar a lutar pelos seus diretos, direitos de ser humano que é.
Agora no Vale – Como a presença de Sassá mudou a dinâmica de sua família?
Márcia – Mudou tudo, desde a monotonia dentro de casa, desde ter que voltar a ser mãe de criança, já sendo vó, a vida escolar, atividades, aula disso, daquilo, festas de aniversário, etc. Mudou tudo para melhor, e uniu a família.
Agora no Vale – Que conselhos você daria para outras pessoas que podem estar inspiradas pela sua história e que desejam ajudar os outros de maneira significativa?
Márcia – Não sei se tenho conselhos! Porque se o coração não for tocado pelo amor, de nada adianta. Nós também estávamos no grupo do racismo e preconceito, até que fomos profundamente tocados, todos da família. A pessoa que meu neto Lucas de 3 anos mais ama é a Sassá.
Reportagem: Leonardo Heisler/Agora no Vale