Tragédia, trauma e TEPT, como isso influencia o psicológico das crianças nesse momento? n617

Por Redação / Agora Publicado 15/09/2023

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Estamos vivendo um cenário de muita tristeza no Vale do Taquari, cidades foram devastadas pela enchente, vidas perdidas, casas e empresas completamente destruídas.

Cada pessoa está enfrentando uma batalha e uma dor diferente, o luto é coletivo por todas as perdas e danos. Diante do caos, há também muita solidariedade, empatia, apoio e cuidado.

Em meio a tudo isso, há uma preocupação com as crianças e adolescentes que vivenciaram o impacto direto dessa tragédia, algumas resgatadas em telhados com suas famílias, outras com a água quase no pescoço dentro de casa, dentre outras situações desesperadoras e traumáticas de se viver.

O retorno de algumas escolas ainda é imprevisível, afetando de outra forma as crianças que não vivenciaram os estragos e perdas maiores, mas que ainda assim sofrem ao ver tudo isso.

Ao analisar toda a situação é natural que se questione qual o impacto dessa tragédia para uma criança?

A verdade é que assim como os adultos, cada criança reagirá de forma diferente ao que está acontecendo, e em como consegue elaborar esse momento crítico. No entanto, há fatores de cuidado que auxiliam para que a criança e o adolescente tenham melhores recursos internos para elaborar essa situação considerada de potencial traumático.

Conforme o Dr. Gabor Maté, especialista em trauma, uma criança que tem com quem contar diante das adversidades, que pode expressar seus sentimentos, conta com o apoio da família ou responsáveis, se sente amada e protegida, tem vínculos seguros, diminuem as chances de que desenvolva um transtorno de estresse pós-traumático (TEPT).

Em seus estudos, o Dr. Gabor Maté avaliou soldados que voltavam da guerra e buscou compreender porquê alguns desses homens retornavam e começavam a apresentar sintomas de TEPT, e outros não. Uma das suas conclusões foi perceber que o apoio familiar e afetos recebidos na infância previnem o desenvolvimento de TEPT.

Ou seja, amor e cuidado são protetivos psíquicos para que os seres humanos se desenvolvam melhor diante das circunstâncias imprevisíveis e tenham resiliência diante dos sofrimentos.

Fique atento se o seu filho (a) começar a ter sonhos angustiantes recorrentes, brincadeiras repetitivas que incluam aspectos do evento traumático, reações fisiológicas (dores de barriga, cabeça, escapes de urina, regredir no desfralde), maior irritabilidade, dificuldade para dormir, comportamentos evitativos, mudanças de humor e alterações na concentração.

Busque conectar-se aos sentimentos de seu filho nesse momento, saiba expressar e naturalizar os seus sentimentos também, lembre-se que é natural estar triste, com medo, ansioso, preocupado. O importante é que a criança seja criança, que possa chorar, expressar o que pensa, brincar e poder se sentir incluída a ajudar.

Os filhos moldam-se pela forma como os pais gerenciam suas próprias emoções e em como conseguem lidar com adversidades, pode ser que nesse momento você como pai ou mãe precise de ajuda psicológica para conseguir ser apoio para seus filhos também. Não sofra sozinho, busque ajuda para poder ajudar.

por Maria Júlia Lohmann Wagner
Psicóloga
Especialista em terapia cognitivo-comportamental e terapia do esquema
Instagram: @maju.psi