O diabetes melito tipo 1 (DM1) é uma doença autoimune caracterizada por deficiência ou ausência de secreção de insulina e consequente hiperglicemia. É uma doença inflamatória crônica, causada pela destruição autoimune seletiva das células beta pancreáticas produtoras de insulina, de herança poligênica com a contribuição de um ou mais fatores ambientais, e que acomete indivíduos geneticamente predispostos.
O DM1 é o tipo de diabetes mais frequente na faixa etária pediátrica, correspondendo a 90% de todos os casos. Ocorre mais frequentemente no outono e inverno, com predomínio na raça branca. Afeta igualmente ambos os sexos. A agregação familiar é rara (85% dos pacientes não possuem história familiar). A concordância é de 30% a 70% entre gêmeos idênticos; 6% a 7% entre irmãos; e 1% a 9% para crianças que têm um dos pais com DM1.
Tanto a incidência como a prevalência do DM1 estão aumentando globalmente, com incremento na incidência de 2% a 3% ao ano, principalmente entre menores de 15 anos, e particularmente naqueles com menos de 5 anos.
A identificação precoce dos sintomas do DM1, com pronto diagnóstico e encaminhamento para realização de exames confirmatórios, pode evitar que essas crianças evoluam para cetoacidose diabética, principal e mais grave complicação aguda da DMI. Além disso, a introdução precoce da insulinoterapia favorece a preservação de células beta, com melhor controle da doença.
A criança já nasce com predisposição genética para o desenvolvimento do DM1. Durante algum momento de sua vida, um desencadeante ambiental atua como gatilho, ativando a autoimunidade celular, com produção de autoanticorpos contra insulina (IAA) levando à lesão das células beta. A partir disso, o paciente evolui sequencialmente pelas fases de intolerância à glicose, pré-diabetes e diabetes clinicamente estabelecido. As manifestações clínicas da hiperglicemia ocorrem quando 90% das ilhotas pancreáticas são destruídas.
Alguns dos fatores ambientais associados ao desencadeamento do diabetes são: infecções virais, antecipação do desmame com introdução precoce de leite de vaca e cereais, deficiência de vitamina D, exposição a medicamentos ou toxinas, estresse físico, psíquico ou emocional, idade materna acima de 35 anos, parto cesáreo e ganho ponderal materno excessivo durante a gestação.
As quatro manifestações clássicas que levam ao diagnóstico de DM1 são: poliúria (fazer xixi muitas vezes), polidpsia (excessiva sede), polifagia (fome excessiva) e perda de peso, conhecidas como “polis”. Outras queixas frequentemente relatadas são: taquipneia, visão turva, cansaço, broncoespasmo, hálito cetótico, presença de formigas na urina presente em superfícies e candidíase genital. Deterioração do rendimento escolar e relato de estresse emocional ou infeccioso precedendo o diagnóstico também podem ser relatados.
A poliúria pode se manifestar por enurese noturna secundária, em um paciente que já havia adquirido controle vesical noturno. A perda de peso pode se manifestar por ganho ponderal insuficiente ou por emagrecimento inexplicável em uma criança com polifagia.
O não reconhecimento dessas queixas como manifestação de DM1, faz com que aproximadamente 30% a 50% dos pacientes sejam diagnosticados tardiamente, já com cetoacidose diabética.
Após diagnóstico, o paciente precisa iniciar imediatamente o uso de insulina com orientação e acompanhamento com especialista, que indicará os tipos de insulina (basal e prandial) a serem usadas e suas respectivas doses
Além do acompanhamento com o pediatra, os pacientes com DM1 necessitam acompanhamento com endocrinologista (a cada 3 meses), oftalmologista (anualmente para aqueles maiores de 10 anos ou com mais de 5 anos de duração de doença) e nutricionista (ao diagnóstico e depois em intervalos regulares para orientação nutricional e sobre contagem de carboidratos) e dentista (anualmente). Além desses, pode ser necessário, acompanhamento com outros profissionais a exemplo de psicólogo e educador físico.
É importante atentarmos para esse diagnóstico, quanto mais precoce, melhor a qualidade de vida e controle glicêmico.